COP30: delegações de 194 países têm o desafio de negociar medidas para impedir que o planeta esquente ainda mais
11/11/2025
(Foto: Reprodução) Começou, em Belém, a Conferência do Clima das Nações Unidas. Delegações de 194 países têm pela frente o desafio de negociar um plano para impedir as piores consequências do aquecimento global. O repórter Felipe Santana acompanhou o primeiro dia da COP30.
Na tarde desta segunda-feira (10), caiu uma tempestade torrencial. Teve gente filmando porque muita gente nunca viu uma tempestade assim. É a COP amazônica. Alguns lugares alagaram por um breve período de tempo - corredores que ligam uma tenda a outra, que estavam abertos. Não causou transtorno.
Cinquenta mil integrantes de delegação vão a COP em 2025. Esses quase 200 países, a partir de agora, pelas duas próximas semanas, vão discutir 145 tópicos sobre mudanças climáticas. Cada um desses tópicos, com documentos que têm que ser discutidos palavra por palavra, termos jurídicos, um verbo. E é só depois dessas discussões que a gente vai saber se essa COP vai seguir a sua vocação: de ser s COP da implementação. Eles querem sair de lá com o que estão chamando de "Mapa do Caminho", com metas e prazos para a gente abandonar os combustíveis fósseis e usar cada vez mais energia renovável.
A dança típica da Ilha de Bornéu recebe os visitantes no estande da Malásia. Mas são os brindes das delegações que atraem as filas. Principalmente os leques.
Até sexta-feira (7), uma área do pavilhão da COP estava em obras. Nesta segunda-feira (10), para a surpresa geral, empolgou quem entrava para discutir as mudanças do clima. Até domingo (9) não se sabia nem se a discussão ia começar. Porque os países precisavam concordar com a agenda da COP: em que momento seria negociado cada ponto. Se a agenda não é aprovada, trava toda a discussão.
Mas aí a estratégia mudou. O presidente da COP, o embaixador brasileiro André Corrêa do Lago, adiou as conversas sobre temas mais sensíveis (a gente explica direitinho em outra reportagem). Isso fez com que a COP pudesse começar no momento certo.
COP30: delegações de 194 países têm o desafio de negociar medidas para impedir que o planeta esquente ainda mais
Jornal Nacional/ Reprodução
Sob a chuva amazônica que muita gente nunca tinha nem visto e ao som de Fafá de Belém, que representou o Pará na cerimônia desta segunda-feira (10). A ministra da Cultura, Margareth Menezes, também subiu ao palco. No discurso de abertura, Lula defendeu a escolha de Belém:
“Trazer a COP para o coração da Amazônia foi uma tarefa árdua, mas necessária”.
Sem citar nenhum país ou governante, Lula condenou países que gastam dinheiro com conflitos armados - recursos que, segundo ele, deveriam ir para o combate ao aquecimento global:
"Se os homens que fazem guerra estivessem nesta COP, eles iriam perceber que é muito mais barato colocar US$ 1,3 trilhão para a gente acabar com um problema que mata do que colocar US$ 2,7 trilhões para fazer guerra como fizeram no ano passado”.
Lula lembrou fenômenos climáticos extremos recentes. Entre eles, os tornados que destruíram regiões do Paraná. O presidente voltou a criticar aqueles que negam a existência das mudanças climáticas:
"Na era da desinformação, os obscurantistas rejeitam não só as evidências da ciência, mas também os progressos do multilateralismo. Eles controlam algoritmos, semeiam o ódio e espalham o medo. Atacam as instituições, a ciência e as universidades. É momento de impor uma nova derrota aos negacionistas”.
Lula na COP30, em Belém
Jornal Nacional/ Reprodução
A ideia a partir de hoje, as delegações na COP discutem planos e ações concretos. De que forma o mundo pode trocar combustíveis fósseis, como carvão e petróleo, por energia limpa, como a do sol e do vento? De que forma os países ricos podem ajudar os países pobres a se prepararem para as mudanças climáticas? E uma prioridade do governo brasileiro: como manter as florestas tropicais em pé?
Nesta segunda-feira (10), na abertura, a principal autoridade das Nações Unidas em mudanças climáticas, o secretário Simon Stiell, criticou o atraso dos países em entregar as novas metas nacionais contra o aquecimento global. 2025 é o ano em que cada governo precisa atualizar esses objetivos. Um levantamento da plataforma Climate Watch mostrou que até agora 110 países fizeram isso. Ainda faltam quase 90, entre eles, grandes emissores como a Índia, e produtores de petróleo, como a Arábia Saudita.
Estados Unidos é ausência na COP30
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Uma cena dificulta todo o processo: as cadeiras vazias da maior economia do mundo e segundo maior poluidor global - os Estados Unidos. A caminho de Belém, o governador da Califórnia, Gavin Newsom -adversário do presidente Donald Trump -, falou em um evento em São Paulo e lamentou a ausência americana. Ele disse que há nos Estados Unidos uma guerra ideológica sobre o assunto, que há muito interesse e dinheiro envolvido nessa guerra e que o governo federal age com estupidez - mas não a Califórnia.
Ao longo das próximas duas semanas, as delegações que estão em Belém têm que fazer valer o tema dessa COP: traçar caminhos claros para tirar do papel os compromissos. Como reforçou, nesta segunda-feira (10) de manhã, o embaixador André Corrêa do Lago ao assumir o posto de presidente da COP30:
"Esta, portanto, é uma COP de implementação. Uma COP que vai avançar na integração do clima com a economia, nas atividades, na criação de emprego. E, mais do que tudo, uma COP que vai ouvir e acreditar na ciência”.
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