Tarcísio determina mobilização total de policiais para encontrar assassinos de ex-delegado-geral executado em emboscada
16/09/2025
(Foto: Reprodução) Ruy Ferraz Fontes foi executado a tiros em Praia Grande, SP
Prefeitura de Praia Grande e Reprodução
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), determinou que a Polícia Civil se mobilize por completo para chegar aos assassinos do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz Fontes, executado nesta segunda-feira (15) no litoral paulista.
“Estou estarrecido. É muita ousadia. Uma ação muito planejada, por tudo que me foi relatado. O delegado Ruy percebeu que estava sendo atacado, tentou escapar da emboscada, mas foi covardemente assassinado”, disse o governador.
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A força-tarefa, segundo Tarcísio, envolverá o Deic e o DHPP, principalmente. Ambos os departamentos contam com policiais que têm muitos informantes no crime organizado e que podem ajudar a elucidar a execução de Ruy.
“Conversei com o delegado-geral de polícia, com o procurador de Justiça do estado e pedi que todos se mobilizem e trabalhem juntos. Queremos o máximo empenho para encontrar os assassinos e entender a motivação do crime”, afirmou.
O governador diz que esta é a prioridade máxima da polícia do estado a partir de agora. “Temos que dar uma resposta para a família do delegado em primeiro lugar e para a sociedade. Tenho certeza de que os assassinos serão encontrados e tudo será esclarecido o mais rapidamente possível.”
O diretor do Deic telefonou para o diretor da Polícia Civil na Baixada Santista colocando toda a estrutura do Deic à disposição dos investigadores.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública informou que "lamenta, com profundo pesar, a morte do delegado Ruy Ferraz Fontes, ocorrida nesta segunda-feira (15), em Praia Grande, vítima de um atentado no bairro Vila Mirim".
Já o secretário da SSP, Guilherme Derrite, afirmou, em suas redes sociais, que determinou a criação de uma força-tarefa "com prioridade definida pelo gov. Tarcísio, para prender os criminosos" e que o procurador-geral de Justiça ofereceu o apoio do Gaeco.
Ninguém aposta neste momento sobre qual pode ter sido a motivação. Ruy Fontes era odiado pelo PCC por todo o histórico da atuação dele contra a facção criminosa. Por outro lado, ele estava à frente atualmente de uma secretaria importante na Prefeitura de Praia Grande. “Ele pode ter 'batido de frente' com interesses os mais diversos”, afirmou à TV Globo um delegado de polícia que trabalhou muitos anos com o ex-delegado-geral.
Praia Grande é uma das cidades do litoral paulista em que boa parte dos criminosos procurados em São Paulo costuma se refugiar. O crime organizado também investe fortemente no mercado imobiliário da cidade.
“Foi muito arriscado o dr Ruy ir trabalhar numa cidade tão problemática, sob o ponto de vista da presença de integrantes do PCC e de interesses os mais diversos”, informou à TV Globo um diretor da Polícia Civil.
Infográfico - Dr. Ruy Ferraz é morto a tiros em praia Grande
Arte/g1
Quem era o ex-delegado-geral
O ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, de 68 anos, assassinado a tiros na tarde desta segunda-feira (15) em Praia Grande, no litoral paulista, atuou há mais de 20 anos na prisão de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, e no combate ao Primeiro Comando da Capital (PCC) no estado.
As autoridades ainda não sabem quem matou o ex-delegado e qual foi o motivo do crime. Duas hipóteses estão sendo consideradas no momento para explicar o homicídio de Ruy:
Vingança do PCC em razão da atuação histórica da vítima contra os chefes da facção;
Reação de criminosos contrariados pela atuação dele à frente de Secretaria de Administração da Prefeitura de Praia Grande.
O atual delegado-geral, Arthur Dian, deixou a capital paulista e foi para o litoral para participar das investigações iniciais.
Câmeras de segurança gravaram o momento em que criminosos em um carro perseguem o veículo da vítima, que bate em um ônibus. Em seguida, o grupo desembarca do automóvel e atira em Ruy (veja vídeo nesta reportagem).
Delegado Ruy Ferraz Fontes é executado a tiros em Praia Grande, SP
A morte de Ruy foi confirmada pela Prefeitura de Praia Grande, onde ele comandava a pasta de Administração desde 2023. Antes, no entanto, ele foi uma das autoridades mais atuantes diante da facção criminosa e de seu chefe, Marcola.
"Estou em choque, fui o último a falar com ele [por telefone]", disse ao g1 Marcio Christino, ex-promotor que atuou no combate à facção e seus chefes, no início dos anos 2000, com Ruy, que à época era delegado no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), na capital paulista. Atualmente, Christino é procurador de Justiça.
Christino chegou a mencionar a atuação de Ruy como delegado contra o Primeiro Comando da Capital no livro "Laços de sangue: A história secreta do PCC", que escreveu com o jornalista Claudio Tognolli. Foram mais de 40 anos como policial.
Ruy comandou a Polícia Civil paulista entre 2019 e 2022, quando foi indicado pelo então governador João Doria, à época no PSDB. Ele também atuou no Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no Departamento Estadual de Investigações contra Narcóticos (Denarc) e no Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap).
"[Ruy] foi uma das pessoas que prendeu o Marcola ao longo da história do PCC, que esteve passo a passo nesse enfrentamento ao PCC, e ser executado dessa maneira. Isso mostra, infelizmente, o poderio do crime organizado, a falta de controle que o crime organizado tem dentro do Brasil, dentro do estado de São Paulo. É uma ação extremamente ousada", disse Rafael Alcadipani, professor da Faculdade Getulio Vargas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Formado em direito pela Faculdade de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, Ruy se tornou delegado depois e começou a investigar o PCC no início dos anos 2000. Quando esteva no Deic, participou das prisões de alguns dos chefes da facção, incluindo Marcola, por tráfico de drogas, formação de quadrilha e outros crimes relacionados ao grupo criminoso.
Ex-delegado-geral de SP é assassinado no litoral de SP
Em 2006, ele e sua equipe de policiais indiciaram Marcola e a cúpula do Primeiro Comando da Capital.
Segundo Christino, ele, Ruy e todas as autoridades, sejam elas do MP ou da polícia que atuaram no combate à facção, já foram ameaçadas antes pelo PCC. "Ele [Ruy], eu e todos que trabalharam naqueles casos, inclusive nos ataques de 2006."
Criminosos fogem após executar o delegado Ruy Ferraz Fontes no litoral de São Paulo
Reprodução
Em 2006, ordens do PCC de dentro das cadeias determinaram uma série de ataques contra agentes de segurança pública devido à decisão do governo paulista de transferir as lideranças da facção, incluindo Marcola, para o presídio de segurança máxima de Presidente Venceslau, no interior do estado.
Indagado se Ruy lhe contou se estava recebendo ameaças recentemente, Christino respondeu que "não".