Derrite recusa ajuda da PF e diz que execução de delegado Ruy será investigada só pelo governo de SP
16/09/2025
(Foto: Reprodução) Derrite recusa ajuda da PF e diz que morte do delegado Ruy Ferraz será investigada em SP
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (PL), agradeceu e recusou o apoio oferecido pelo Ministério da Justiça para ajudar esclarecer o assassinato do ex-delegado-geral de SP – Ruy Ferraz Fontes – e disse que as policiais estaduais estão mobilizadas para identificar e prender os assassinos envolvidos na execução.
A fala de Derrite foi na saída do velório do corpo do doutor Ruy, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), ao ser indagado sobre a ligação feita pelo ministro Ricardo Lewandowski ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, também ofereceu apoio.
“Agradecemos o apoio da Polícia Federal, mas no momento todo o aparato do estado aqui é 100% capaz de dar a pronta resposta necessária. Tanto é que, em pouquíssimas horas, o primeiro indivíduo [ligado ao crime] já foi identificado e qualificado. Nós vamos continuar realizando esse trabalho”, afirmou.
Também durante o velório, Derrite diz que já identificou um suspeito pela execução e vai pedir a prisão temporária dele.
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“Nós temos diretamente envolvidos o DHPP, o DEIC. Os policiais estão nas ruas desde ontem [segunda], quando soubemos do assassinato. Eles não pararam de trabalhar e não vão parar de trabalhar”, disse Derrite.
Apesar da recusa na ajuda direta da PF nas investigações, o secretário da SSP paulista disse que o governo federal pode repassar informações que ajudem a prender os assassinos do ex-delegado geral, mas que esse trabalho será comandado pela Polícia Civil paulista.
“A Polícia Federal se colocou à disposição. Se eles tiverem alguma informação e quiserem colaborar, obviamente vai ser bem aceito. Nosso objetivo é prender os criminosos. Todos nós estamos desprovidos de eventual vaidade, porque nós somos policiais e polícia é um órgão de estado, não de governo. E eu confio 100% no trabalho da Polícia Civil do Estado de SP”, declarou.
O secretário de Segurança Pública de SP, Guilherme Derrite (PL), e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.
Montagem/g1/Reprodução/TV Globo e Lula Marques/Agência Brasil
“Eu dou a certeza para todos vocês é que todos que cometeram esse crime vão pagar por isso”, completou.
Mais cedo, em Brasília, o ministro da Justiça do governo Lula (PT) disse que ligou para o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para se colocar à disposição para auxiliar nas investigações.
“O crime organizado ataca a soberania. (...) Nós nos colocamos à disposição do estado, sobretudo no que diz respeito à Polícia Científica. Nós temos um banco de dados no que diz respeito a balística, DNA, informações, tudo isso nós colocamos à disposição, se necessário, do governo de São Paulo”, disse o ministro.
“É preciso que essas forças dialoguem entre si. O governo federal não tem nenhum interesse em ingerir nos Estados e municípios em termos de segurança pública (...). A criminalidade que tanto nos aflige não é só nacional. Ela precisa ser atacado de forma coordenada tanto internamente nos países como internacionalmente”, declarou.
Velório na Alesp
Corpo do ex-delegado-geral da Polícia Civil paulista Ruy Ferraz Fontes chega à Alesp
O corpo do ex-delegado-geral da Polícia Civil paulista Ruy Ferraz Fontes, executado por criminosos na Praia Grande, no litoral do estado, começou a ser velado na manhã desta terça-feira (16) na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), na capital.
Por volta das 7h30, o corpo deixou o Instituto Médico Legal (IML), no Centro da capital, no carro da funerária e chegou na Alesp às 11h10, onde será velado até as 15h. O velório público é acompanhado por amigos, familiares, políticos e autoridades do estado de São Paulo.
Entre os presentes está o secretário Derrite, deputados estaduais e federais, além do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), e vários integrantes do governo de São Paulo e da Polícia Civil.
Corpo de Ruy Ferraz chega à Alesp, em São Paulo, para velório público com presença de autoridades.
Bervelin Albuquerque/g1
O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, também compareceu às despedidas ao ex-delegado geral do estado.
O enterro está previsto para as 16h no Cemitério da Paz, no Morumbi. É esperada a presença de diversas autoridades, entre elas a do secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes.
A investigação tem duas suspeitas principais para a motivação do crime:
Vingança em razão da atuação histórica de Ruy Fontes contra os chefes do Primeiro Comando da Capital (PCC)
Reação de criminosos contrariados pela atuação dele à frente de Secretaria de Administração da Prefeitura de Praia Grande.
O ex-delegado geral da Polícia Civil de São Paulo Ruy Ferraz Fontes.
Divulgação/GESP
O governador Tarcísio de Freitas determinou mobilização total da polícia, com a criação de uma força-tarefa para identificar os assassinos.
“Estou estarrecido. É muita ousadia. Uma ação muito planejada, por tudo que me foi relatado. O delegado Ruy percebeu que estava sendo atacado, tentou escapar da emboscada, mas foi covardemente assassinado”, afirmou o governador.
A força-tarefa, segundo Tarcísio, envolverá o Deic e o DHPP, principalmente. Ambos os departamentos contam com policiais que têm muitos informantes no crime organizado e que podem ajudar a elucidar a execução de Ruy.
O ex-delegado-geral atuou há mais de 20 anos na prisão de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, e no combate ao PCC no estado.
O que se sabe sobre a execução do delegado Ruy Ferraz Fontes em SP
Carro suspeito de ter sido usado no atentado contra delegado é encontrado incendiado
Criminosos atiraram mais de 20 vezes em atentado contra delegado
Veja o passo a passo da execução do delegado
Ruy Ferraz Fontes foi assaltado com arma na cabeça um ano antes de execução
Câmeras registraram execução
Câmeras de segurança gravaram o momento em que criminosos em um carro perseguem o veículo da vítima, que bate em um ônibus. Em seguida, o grupo desembarca do automóvel e atira em Ruy (veja vídeo nesta reportagem).
Delegado Ruy Ferraz Fontes é executado a tiros em Praia Grande, SP
"Estou em choque, fui o último a falar com ele [por telefone]", disse ao g1 Marcio Christino, ex-promotor que atuou no combate à facção e seus chefes, no início dos anos 2000, com Ruy, que à época era delegado no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), na capital paulista. Atualmente, Christino é procurador de Justiça.
Christino chegou a mencionar a atuação de Ruy como delegado contra o Primeiro Comando da Capital no livro "Laços de sangue: A história secreta do PCC", que escreveu com o jornalista Claudio Tognolli. Foram mais de 40 anos como policial.
O ex-delegado-geral comandou a Polícia Civil paulista entre 2019 e 2022, quando foi indicado pelo então governador João Doria, à época no PSDB.
Ele também atuou no Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no Departamento Estadual de Investigações contra Narcóticos (Denarc) e no Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap).
"[Ruy] foi uma das pessoas que prenderam o Marcola ao longo da história do PCC, que esteve passo a passo nesse enfrentamento ao PCC, e ser executado dessa maneira. Isso mostra, infelizmente, o poderio do crime organizado, a falta de controle que o crime organizado tem dentro do Brasil, dentro do estado de São Paulo. É uma ação extremamente ousada", disse Rafael Alcadipani, professor da Faculdade Getulio Vargas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Formado em direito pela Faculdade de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, Ruy se tornou delegado depois e começou a investigar o PCC no início dos anos 2000.
Quando esteva no Deic, participou das prisões de alguns dos chefes da facção, incluindo Marcola, por tráfico de drogas, formação de quadrilha e outros crimes relacionados ao grupo criminoso.
Ex-delegado-geral de SP é assassinado no litoral de SP
Em 2006, ele e sua equipe de policiais indiciaram Marcola e a cúpula do Primeiro Comando da Capital.
Segundo Christino, ele, Ruy e todas as autoridades, sejam elas do MP ou da polícia que atuaram no combate à facção, já foram ameaçadas antes pelo PCC. "Ele [Ruy], eu e todos que trabalharam naqueles casos, inclusive nos ataques de 2006."
Criminosos fogem após executar o delegado Ruy Ferraz Fontes no litoral de São Paulo
Reprodução
Em 2006, ordens do PCC de dentro das cadeias determinaram uma série de ataques contra agentes de segurança pública devido à decisão do governo paulista de transferir as lideranças da facção, incluindo Marcola, para o presídio de segurança máxima de Presidente Venceslau, no interior do estado.
Indagado se Ruy lhe contou se estava recebendo ameaças recentemente, Christino respondeu que "não".
Infográfico - Dr. Ruy Ferraz é morto a tiros em praia Grande
Arte/g1
* Sob supervisão de Cíntia Acayaba